domingo, 30 de agosto de 2009

Nem pra te responder

Karina e eu, havíamos sido convidadas para um jantar na casa de um amigo em comum. Como nós não sabíamos exatamente aonde ficava a casa dele, nos perdemos algumas vezes no caminho.
Algumas voltas depois, paramos num semáforo próximo a casa dele. E nesse mesmo semáforo, dois caras com sotaque de outra cidade pararam ao nosso lado:

 

- Psiu, ei garotas!
Como pessoas educadas que somos, demos atenção aos turistas, talvez até por acreditar que eles iriam pedir informações sobre aonde ficava algum lugar.
- Vocês não querem sair pra jantar?
E educadamente a gente respondeu...
- Não, não...
Até parece que nós iríamos sair para jantar com dois turistas que nunca havíamos visto na vida.
- Nem pra tomar uma cervejinha?
E educadamente a gente respondeu...
- Não, não...
Se jantar não rola, piorou "tomar uma cervejinha".
- Nem pra dançar?
E educadamente a gente respondeu...
- Não, não...
Todo mundo sabe que, tratando-se de cantadas, existe a universal "regra do três". A "regra do três" nos mostra que se você tentou algo três vezes e isso não deu certo, é porque essa coisa não é para acontecer. Se você insiste em ultrapassar o limite da "regra do três", a coisa só tende a piorar.
- Nem pra dar beijinho?
Meu querido, entenda, se eu não quero jantar, nem "tomar uma cervejinha" e nem dançar com você, piorou "dar beijinho". Então por que continuar insistindo nisso?
Considerando que a "regra do três" foi quebrada, você tem todo o direito de começar a ignorar essas pessoas sem estar sendo mal educada e sem que elas possam reclamar de tal atitude.
- Nem pra dormir junto?
Não, não, não, peraí! Por que agora que vocês falaram nisso, eu realmente percebi que quero demais! Com certeza essa é a melhor opção entre todas as anteriores que nos foram propostas! Aliás, por que vocês não começaram por essa opção? 

Bem, nesse caso, a gente ganha o direito de responder qualquer coisa que vier a mente. Então observem as possíveis respostas para os turistas:
1 - Resposta da "mulher da vida": Meu querido, me desculpe, mas é que nós só trabalhamos com carros de luxo, tipo Hilux ou acima disso... Grata pela sua atenção!
2 - Resposta da "mulher que pega ar": Seu palhaço, eu não quero nem olhar na sua cara, quanto mais fazer qualquer outra coisa com você! Vai dormir com a sua mãe!
3 - Resposta da "mulher preconceituosa": Se você queria isso, deveria ter ficado pela sua cidade mesmo, soube que por lá o negócio é bem mais fácil do que aqui.
Entretanto, nós ficamos com a resposta daquelas mulheres que estão acima desse tipo de gente:
Optamos pela indiferença ao ignorá-los, deixando eles para trás não só nesse sentido, mas no semáforo também. 

Referências:
* Indiferença: uma doença que mata. Luteranos. Disponível em http://www.luteranos.com.br/mensagem/2004_022.html

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Micareta de picareta

A Micareta, ou "Carnaval fora de época", é conhecida:
- Pelos Abadás: blusa que é a "dor de cabeça" das garotas. Não tem saída: é cortar, fazer seu modelo, costurar e amarrar. É um mau necessário, pois ninguém quer ir parecendo um saco de batatas;
- Pela grande quantidade de foliões suados: esse número pode variar de 7 pessoas/m² (quando ainda é possível respirar) para 15 pessoas/m² (quando as chances de morrer por asfixia e pisoteado aumentam em 77%);
- Pela música Axé: é tocada num volume tão alto, que se você estiver ao lado do carro (onde ficam as caixas de som) você precisa tapar os ouvidos literalmente;
- Pelos bêbados: eles bebem por duas razões básicas, a típica desculpa de "festa sem bebida não é festa", e encorajarem-se para beijar o máximo de meninas possíveis.
Isso nos leva ao principal motivo pelo qual as pessoas vão para a Micareta. Nas palavras de Cláudia Leitte:
"Eu ando muito a fim de experimentar, meter o pé na jaca sem ter que me preocupar. Eu quero mais, mais, mais, mais... Eu quero mais é beijar na boca! Eu quero mais é beijar na boca! Eu quero mais é beijar na boca! E ser feliz daqui pra frente... pra sempre".
Sim, a Micareta é especialmente conhecida como o dia do ano em que você vai "sair da seca", oportunidade para beijar é o que não falta.

Nesse ano, pela primeira vez na minha vida, decidi participar de uma Micareta, fomos eu, meu amigo Vinicius, minha amiga Deyse e seu namorado Thomas. Os números não mentem, eu fui no último dia e no último bloco da Micareta (e ainda cheguei atrasada) e 22 caras tentaram me beijar, desconsiderando os olhares perigosos.

Foto por Juliana Coutinho

Desses 22 caras que tentaram me beijar, surgiram algumas pérolas, pérolas que me fizeram lembrar do termo "picareta" que, "No jargão popular brasileiro, esta palavra também é empregada para designar pessoas que executam serviços sem pleno conhecimento profissional para tanto, resultando, frequentemente, em trabalhos de qualidade questionável também conhecidos por "picaretagem" *. Ou seja, meus caros 22 foliões, as cantadas e tentativas de executar o "serviço" de vocês foram sem nenhum conhecimento profissional, gerando atos e frases de qualidade questionável conhecidos por "picaretagem".

Ao chegar na Micareta entreguei meu ingresso, passei pela catraca e, por último, passei pela revista. Dei 3 passos para frente, e aconteceu a "abordagem" mais rápida da história:
- E aí belezinhaaa???
Apenas olhei para frente como quem procura alguém.
- Vixe, você tá com namorado? Me desculpa!
Ufa... Essa foi por pouco, quase comprovei que na Micareta ninguém é de ninguém mesmo! A "lenda" da Micareta é dizer que a galera vai te forçar a beijar, confesso que existem diversas tentativas e diferentes táticas, mas isso não significa que vão pegar no seu pescoço e tentar te asfixiar. Minto, vão sim, aconteceu comigo.
Foi assustador quando um picareta agarrou meu pescoço de lado e apertou minha garganta. Por sorte, Vinicius estava por perto, e consegui pegar na mão dele antes que algo pior acontecesse.
- Que foi Vanessa?
No mesmo segundo voltei a respirar. Ficamos pensando que aquela atitude só poderia significar duas coisas, ou ele era um psicopata de Micaretas, ou aquilo era realmente uma nova tática para beijar.
Por falar em táticas, houveram aqueles que utilizaram a "tática do pedinte de beijos", que consiste apenas em estender a mão na direção de sua pretendida. Para cada picareta que me apareceu com essa tática, receberam um cumprimento ou um famoso "toca aqui"! Um deles até ensaiou uma cara de choro que era de dar pena... para os outros picaretas obviamente.
São essas coisas que às vezes te fazem ficar com uma cara fechada, e principalmente com um pé atrás com aqueles que você não conhece.
- Vamos dançar?
- Não quero dançar não.
- Como é que você vem pra cá... Paga caro pra tá num bloco desse... Pra ficar assim... Com essa cara de emburrada?
- Eu tô com cara de emburrada?

- Tá sim!
- É? Como tá a minha cara? Ele fez algo mais ou menos assim.
E no mesmo instante eu tive que sorrir, quem diria, um picareta me dando uma lição.

- E agora? Melhorou?
- Melhorou bastante!
Depois disso comecei a interagir com as pessoas a minha volta da maneira mais lógica, com a música que tocava. As músicas sempre ajudam os picaretas a concretizarem a picaretagem:
- "E aí? Chupa todaaa!"
- "Disse toda!"
Sim, respondi a música que o picareta cantava na intenção de não ser mais a emburrada, mas respondi a pior música que alguém poderia responder numa Micareta. O amigo dele logo percebeu:
- Ei doido! Ela disse "toda"! 
O próprio picareta cortou o barato: 
- É da uva que você tá falando? 
- Lógico que é da uva! 
Você achou que era o quê? Da minha boca? Da sua boca? Não mesmo! 
Com certeza "Tchau, I Have To Go Now" foi a minha música favorita na Micareta, ela tocou cerca de 4 vezes e foram os momentos mais fáceis para dispensar os picaretas: 
- Tchau, I Have to go now, I have to go now, tchau! 
Nem mesmo o namorado de Deyse escapou dos picaretas: 
- Oiii! Como é o seu nome linda? 
- Deyse... 
- E esse bofe? 
- Thomas, e é namorado da DEYSE! 
- Aiii, já quero! 
Depois de tamanha aventura, resolvemos comer e fazer um balanço da noite, nós, e é claro, os micareteiros da mesa vizinha a nossa: 
- Cara, só sei que quando eu beijava a menina, eu passava a língua em todos os dentes pra ver se tava tudo lá mesmo! 
É, nem psicopata e nem nova tática, mas não custava nada o picareta que agarrou meu pescoço perguntar se eu era banguela. 

Referências:
* Picareta. Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Picareta
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